terça-feira, 17 de janeiro de 2017

                  
Quem te vê assim, com tanta imponência e sobriedade, não sabe que por trás de todas essas afeições que a vida deixou em você, esse jeito de quem não precisa de ninguém, mesmo assim eu sei que no fundo você gosta mesmo é de ser cuidada, e daquele cafuné cuidadoso para conseguir dormir em paz. Esse seu sorriso lindo esconde bem o semblante, muitas vezes de desânimo e tristeza, quando lhe conheci não precisei  tomar dois copos de chope com você em uma mesa de um bar para conseguir um passe livre para ver tamanha fragilidade. Existem minúcias que somente os olhares mais aguçados  são capazes de reconhecer.

É preciso mais do que tato, para se compreender a imensidão do outro. Noites em claro, dias nublados, falta de grana, banho de chuva, silêncio ou muito barulho. Dias assim todos temos. Mas aos meus olhos todos os  seus disfarces não foram capazes de cobrir a sua verdadeira essência. Pra mim não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição e a importância que você dá. Quatro anos podem ser insuficiênte para conhecer certas pessoas, e quatro meses mais do que suficiente para outras. Mas não pense que você é previsível, ninguém sai por aí vestido de previsibilidade.  Como na velha parábola, " Para conhecer as borboletas primeiro deve-se ansiar com a mesma intensidade pelas lagartas." Tudo tem um propósito...


Hoje ha cada dia te conheço um pouco mais e sei como é difícil sustentar toda essa pose de indiferença com o mundo lá fora quando a sua insegurança muitas vezes grita e você pede um pouquinho mais de calma. Mas está tudo bem. Ninguém precisa saber disso, porque "nenhum grande guerreiro anuncia aos quatro ventos o seu ponto fraco. Aqueles que desejam vencer a batalha junto a ele, descobrem, entendem, e aceitam."

A magia de te ver assim, aos meus olhos, é que fico imaginando quantas coisas você também foi e é capaz de enxergar sobre mim. Para cada pessoa que cruza o nosso caminho a gente é um ser diferente, eu nunca fui assim com ninguém, e cada um teve e tem de mim aquilo que cativou.  Acontece que para algumas pessoas que cruzam a nossa vida, nenhum detalhe passa despercebido, e com você nada passa. É simplesmente incrível como a gente se mostra sem querer, aí quando já se viu nossos segredos,eles já se moldaram na aceitação do outro e tudo virou uma coisa só, é o que a gente carinhosamente chama de parceria. As vezes é preciso tempo para os sentidos se ajustarem. Nada é o que parece a primeira vista.


É quase como ir ao cinema. Alguém passa o filme que a gente escolheu na tela e à medida que o enredo se desenvolve a plateia decide se vale a pena continuar até o final ou se desiste da trama e vai comer uma pizza na esquina. Se alguém te deu um ingresso para o filme da sua vida, compre uma pipoca e sinta-se muito honrada. Com sucesso, antes dos créditos finais você já conseguiu se ver nos gestos, nas inconsistências, nos sorrisos tímidos daquele protagonista.

Amei você, não pelo que você poderia me oferece ou pelo que ainda poderá, mas por tudo aquilo que você me permitiu descobrir sobre você.


O convite é para você que se olha todos os dias e as vezes fica em dúvida sobre quem é realmente. Se permita, se encontre, se doe e receba, ame, se permita ser amada, chore e sorria também. Sorte na vida é ter alguém para contar sempre quando precisamos e dividir um pouco da gente também. A nudez mais linda é a do coração, essa não esconde mesmo. E que você seja sempre desta forma, surpreendente, e com a delicadeza incomparável de quem sente muito além daquilo que vê. Cegos são os olhos que se deixam enganar por uma miragem, bonito mesmo é a bagunça do lado de dentro (e tudo aquilo que vejo quando eu olho através de você)...
"Vanessa Nascimento."

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Amor à primeira lida




     Contava sete anos quando me deparei com ela. Empatia recíproca, entre tantos garotos que lhe fizeram a corte, tinha eu grande chance de ser seu escolhido.
     Era a escola o principal cenário de nossos encontros. Diariamente eram-me reveladas algumas particularidades de sua personalidade, seus meandros e possibilidades. Eram inúmeros.
     Bibliotecas, bancas de revistas, Chico Buarque, Oswaldo Montenegro, Domingos de Oliveria, Glauber Rocha, Aldoux Huxley, George Orwel, Karl Marx e muitos outros que conheci através de seu intermédio fizeram-me ficar mais apaixonado por ela.
     Como saber se era correspondido? Como saber se estava à altura de suas expectativas?
     Como não tinha certeza se teria sucesso ao me declarar para ela, resolvi investir em meu intelecto e conhecimento de mundo. Acreditava que se tivesse leitura e viagem suficiente, conseguiria conquistar seu amor e devotamento.
     Passava o tempo, livros e autores. Cada nova obra que conhecia era um motivo para aumentar minha estima por ela e a incerteza do seu sentimento por mim. Ela era gentil, dócil, amiga, meiga e envolvente. E amor? Ainda não havia resposta.
     Muitas vezes pensara em declarar-lhe minhas intenções e acabar com essa dúvida.
     Em meus devaneios apaixonados, ela tomava a iniciativa e confessava-me que sempre me amou , que o fato de eu lhe admirar já era prova suficiente de amor e de uma união que seria para sempre feliz. Ah, imaginava com tanta concretude que por um átimo essa cena me parecia realíssima.
     Quando atingi a maioridade de meus sentimentos e impulso, entendi que chegara a hora de ser franco, sincero, sem temer a possível rejeição. Ela sabia de meu caráter, minha boa índole e não iria se ofender se lhe expusesse meus recônditos sentimentos.
     Com voz melíflua, em um fim de tarde com o rosto contra a luz segredei-lhe anos de paixão, devotamento e ardoroso amor apaixonado.
     Contei-lhe os inúmeros livros que lera, discos que ouvira, peças teatrais que assistira, debates culturais que participara no afã de estar à sua altura, cultural e sentimentalmente ,e assim, confessar todas as sentimentalidades de enamorado, que fora cativado por ela, enfim, contei-lhe que a amava.

     Ela, como resposta, dissera que o amor sempre esteve entre nós. O amor sempre estará entre cada vírgula e reticências de nossas efêmeras vidas. Assim tornei-me amante da palavra.